A Avon, empresa mundialmente conhecida, demitiu a executiva Mariah Corazza Üstüng, 29 anos, ao tomar conhecimento de violação de direitos humanos.
A executiva mantinha uma mulher de 61 anos, em situação análoga à escravidão em sua casa, no bairro de Alto Pinheiros, área nobre da capital paulista.
Assim que foi informada da situação, a Avon desligou a funcionária do seu quadro de colaboradores, e se prontificou a prestar todo o acolhimento à vítima.
Após denúncias de vizinhos, a idosa, que era doméstica da família, foi então resgatada.
Tanto a patroa quanto o seu marido foram indiciados por abandono de incapaz, por manter a idosa em condição análoga à de escravo e omissão de socorro.
Entenda a história
Segundo depoimentos obtidos na investigação do Ministerio Público do Trabalho, a doméstica havia sido contratada em 1988, por Sônia Corazza, sem carteira assinada, direito à férias nem 13º salário.
Nos primeiros anos, a idosa não morava no trabalho. Em 2011, como sua casa foi interditada, a patroa ofereceu para que ela morasse na casa de sua mãe.
No mesmo ano, Sônia se mudou para outra cidade, porém, manteve a doméstica na casa do Alto Pinheiros, trabalhando para uma de suas filhas.
Embora cumprindo com todas as suas obrigações, a doméstica passou a não receber seu salário regularmente.
Dois anos depois, Mariah e seu marido se mudaram para o imóvel, e assim, tornaram-se os patrões da idosa, que passou a morar num depósito no quintal.
Com o decreto de isolamento social pelo novo coronavírus, os patrões não permitiram que a idosa entrasse na casa, trancando o quintal e o banheiro, e, dessa forma, impedindo que ela pudesse realizar suas necessidades sanitárias.
Para tomar banho, a empregada doméstica utilizava um balde e uma caneca.
As denúncias foram feitas por uma fonte anônima à Secretaria de Direitos Humanos, e segundo informações, a idosa trabalhava para a família há mais de 20 anos, sem carteira assinada, nem direito à férias e 13º salário.
Assim que houve a denúncia, a executiva da Avon foi presa em flagrante por mandado de prisão emitido pelo Ministério Público do Trabalho em São Paulo, o Núcleo de Enfretamento ao Tráfico de Pessoas da Secretaria da justiça e pela Cidadania do Estado de São Paulo e a Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa.
No entanto, Marianh foi solta após pagar fiança de R$ 2.100,00. Seu marido, Dora Üstüng, de 36 anos, também foi indiciado.
Quando a polícia chegou ao local, encontrou a idosa em um quarto nos fundos do terreno, e a porta principal da casa precisou ser arrombada, pois a residência estava trancada e vazia.
Segundo a procuradora do trabalho Alline Pedrosa, que acompanhou a diligência e responsável pelo pedido judicial, afirmou que o quarto era um tipo de depósito, com cadeiras, caixas amontoadas e estantes.
Um sofá velho era utilizado como cama, e nem acesso ao banheiro ela tinha.
Durante seu depoimento, Mariah afirmou que a empregada tinha livre acesso à residência, e que o portão que dava acesso à lavanderia, onde havia o banheiro, só foi fechado na véspera da operação.
Afirmou ainda que em razão de uma obra no terreno vazio, acabou trancando a porta, com receio da casa ser invadida.
No entanto, uma vizinha disse que, desde o início da pandemia, a empregada pedia a ela para usar o banheiro da casa dela, já que tinha sido proibida de usar a lavanderia.
Mariah ocupava o cargo de gerente de marketing da área de fragrância, filha da cosmetóloga Sônia Corazza, conhecida consultora da indústria de produtos de beleza.
O que fez a Avon?
Nas redes sociais, a Avon se pronunciou com a seguinte nota:
“Com grande pesar, a Avon tomou conhecimento das denúncias de violações de direitos humanos por um de seus colaboradores. Diante dos fatos noticiados, reforçamos nosso compromisso irrestrito com a defesa dos direitos humanos, a transparência e a ética: valores que permeiam nossa história há mais de 130 anos no mundo e 60 anos no Brasil.
Informamos que a funcionária não integra mais o quadro de colaboradores da companhia e a Avon está se mobilizando para prestar o acolhimento à vítima”.
Alguns revendedores ficaram com receio da repercussão do caso e como isso poderia impactar na quantidade de Avons pedido fácil, mas graças à nota da empresa, as vendas não foram afetadas.
Vale mencionar que a juíza responsável pelo caso acolheu os pedidos de bloqueio de bens e expedição de alvará para o pagamento do seguro-desemprego, além de todos os direitos trabalhistas, que estima-se chegar a um valor de mais de R$ 500 mil.